Mamadeira e chupeta. Pra que?
Mamadeira e Chupeta são desnecessárias, embora utilizadas pela maioria das crianças. Elas podem causar inúmeros danos e serem transmissores de germes e vermes. Por isto, uma série de recomendações e normas estão sendo criadas para desencorajar o uso e controlar a publicidade destes produtos, até então inocentes símbolos da infância.
O passo 9 (Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas) para o sucesso do Aleitamento Materno adotado pela Iniciativa Hospital Amigo da Criança da OMS/UNICEF estabelece que não deve ser dado ao lactente chuquinha ou chupeta mesmo sendo ortodônticas.
O uso desses bicos artificiais leva ao fenômeno “confusão de bicos”, isto é, uma forma errônea de recém nascido posicionar a língua e sugar o seio, levando-o ao desmame precoce. O recém nascido nasce com o reflexo de sugar e deglutir que permite, quando bem posicionado por sua mãe, à uma pega correta dos seios, ou seja, envolvendo o mamilo e a aréola. Numa boa pega, a língua fica por baixo (no assoalho da cavidade oral) para pressionar o osso de palato, formando um movimento peristáltico, ritmado, como uma onda. Desta forma ele consegue ordenhar os ductos ou ampolas lactíferas, esvaziando os seios e satisfazendo-se. Na posição errada (má pega) o RN só abocanha o mamilo, não conseguindo esvaziar os seios, causando dor, fissuras, tensão materna, fome, choro e insatisfação do bebê.
Na mamadeira ou na chupeta, o recém nascido empurra a ponta da língua contra o palato para deter o fluxo do leite artificial, da água ou do soro glicosado (que são dispensáveis) e não suga, mas apenas engole passivamente o alimento.
Provoca o desmame precoce
Um estudo realizado no Rio Grande do Sul e publicado internacionalmente constata que o risco de um lactente ser desmamado era maior para os usuários dos bicos artificiais, como a chupeta, do que para os não usuários. Além do bebê ficar viciado com uma pega inadequada, o fato dele sugar menos o peito, faz com que a sua mãe produza menos leite.
O recém nascido que usa chupeta geralmente sofre de Moniliase Oral (Candidíase ou o famoso “sapinho”) e as chupetas ou mamadeiras são veículos de contaminação, porque os líquidos ou leites artificiais podem ser preparados de forma não higiênica e atrapalham a proteção imunológica fornecido pelo Leite Materno.
CÁRIE DE MAMADEIRA
No Brasil, 11,7% das crianças até 2 anos têm a chamada cárie de mamadeira. Segundo a odontopediatra Marcia Eduardo, especializada em tratamento de bebês, a cárie é uma doença contagiosa que pode ser passada de mãe para filho. Beijar o bebê na boca, soprar seu alimento ou limpar a chupeta com a própria saliva são hábitos pouco higiênicos, mas ainda muito comuns, que transmitem a bactéria da cárie.
CHUPETAS SÃO “CALA A BOCA”
Nos EUA as chupetas recebem o sugestivo nome de “pacifiers”, que significa “pacificadores”, ou “me deixa em paz”. O lactente no seu primeiro ano de vida está na fase oral do seu desenvolvimento psico-sexual e a Amamentação em livre demanda (sem horários) é capaz de suprir por si só esta necessidade de sugar, a chamada “sucção não nutritiva”.
AMAMENTAÇÃO EVITA HÁBITOS ORAIS VICIOSOS
Esta é uma das conclusões da tese de mestrado “Aleitamento, hábitos orais deletérios e má-oclusões: existe uma associação ?” da professora Júnia Maria Chein Serra Negra, de Odontopediatria da Universidade Federal de Minas Gerais. Ela investigou práticas orais de 357 crianças de 3 a 5 anos, em 4 escolas de classes sociais diferentes de Belo Horizonte, constatando a hipótese de que os lactentes que não foram aleitadas ao seio, ou o foram por curto período, desenvolvem hábitos orais viciosos.
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A chupeta foi o mal hábito que mais prevaleceu, chegando a 75% dos casos. Ao mesmo tempo, 62% das crianças com respiração bucal tomaram mamadeiras por mais de 1 ano e as crianças com maus hábitos orais apresentaram 4 vezes mais a chance de desenvolver a mordida cruzada. A pesquisadora lembra ainda que, ao nascer, o recém nato tem o queixo pouco desenvolvido, (retrognatismo fisiológico) exatamente para facilitar o encaixe de sua boca no seio da mãe e que o forte movimento de sucção ao seio vai estimular o crescimento dessa estrutura, projetando-a para frente. Além disso, a amamentação implica na sincronicidade dos movimentos de sucção, deglutição e respiração, auxiliando a coordenação da respiração evitando o hábito da respiração bucal, que favorece a instalação de alergias e amigdalites.
A maior incidência de hábitos viciosos foi registrada no grupo de filhos caçulas. Segundo a professora, isto acontece pelo estímulo que recebem para manterem um comportamento infantilizado.
A Dra. Gabriela Dorothy de Carvalho, especialista em cirurgia buco-maxilo-facial e diretora do Centro de Estudos Avançados em Odontologia e Fonoaudiologia afirma que a Amamentação é a: – prevenção da “Síndrome do Respirador Bucal”; – profilaxia das patologias do aparelho respiratório; – forma de evitar a deglutição atípica; – prevenção da mal-oclusão; – profilaxia das disfunções crâneo-mandibulares; – e a melhor maneira de prevenir as dificuldades da fonação.
Excepcionalmente, quando por alguma razão médica o bebê não pode ser amamentado ou sua mãe aleitar, utilizamos copinhos ou xícaras para a administração de leite materno ordenhado.
VEÍCULO DE TRANSMISSÃO DE ENTEROPARASITOS E COLIFORMES FECAIS
Acaba de ser publicado mais um trabalho científico (Pedroso & Siqueira, 1997) que descobriu cistos de protozoários, larvas de helmintos em chupetas. Ovos de Ascaris lumbricóides, Enterobius vermiculares, Trichuris trichiura, Taenia sp e larvas de Ancylostomatídae foram encontrados em 11,63% das chupetas examinadas. Neste artigo os autores afirmam que as mães não tem conhecimento da importância da higienização e do papel que as chupetas desempenham como disseminadoras de infecções. Observam também o percentual elevado de sua utilização (na faixa etária de 4 e 5 anos são utilizados por 50 % das crianças estudadas).
Já havia relatos que a utilização de chupetas aumentam o risco de Otite Média Aguda (Niemela et cols., 1995), de episódios diarréicos infecciosos (Laborde et cols., 1993), de má oclusão dentária (Niemela et cols., 1994) e de contaminação de coliformes fecais em 49% das chupetas examinadas (Tomasi E et al, 1992) o que mais uma vez reafirma a necessidade de abolirmos seu uso.
INMETRO REPROVA A CHUPETA
Análises laboratoriais realizadas em abril de 1996, pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial indicam que estes produtos estão oferecendo riscos ao consumidor mais vulnerável. Uma dezena de marcas foram testadas em vários itens como: embalagem, material, construção e ensaios físicos (tração e fervura) e o resultado é que apenas uma marca teve aprovação em todos os quesitos. O Ministério da Indústria e Comércio junto com o Ministério da Saúde estão criando um regulamento de Certificação de Chupetas.
A ANVISA inclui advertências nas embalagens de mamadeiras e chupetas. Nenhum desses produtos poderá mais sair da fábrica sem a inscrição:
“O Ministério da Saúde adverte: a criança que mama no peito não necessita de mamadeira, bico ou chupeta. O uso de mamadeira, bico ou chupeta prejudica a amamentação e seu uso prolongado prejudica a dentição e a fala da criança”.
A “Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes” (CNS, 1992) deixa bem claro que os rótulos de mamadeiras, bicos e chupetas devem conter a seguinte mensagem:
“A criança amamentada ao seio não necessita de mamadeira e de bico”.
*Autor: Prof. Marcus Renato de Carvalho – IBFAN Rio, Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFRJ. Membro do Grupo de Trabalho “Homens pela Primeira Infância” da Rede Nacional Primeira Infância (RNPI). Editor do portal www.aleitamento.com .
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