[Dicas] – Filmes que exploram o olhar das crianças sobre o mundo – Part. 1
Como as crianças vivem momentos de efervescência política? Como vivem o acirramento da luta de classes? Como elaboram o luto, as perdas e o abandono? Ou a separação de seus pais? Como elas experimentam a pobreza e as mazelas do mundo?
Quando pensamos em filmes com crianças, não vem à nossa cabeça realidades adversas e complexas, mas o cinema tem se dedicado bastante em construir um olhar infantil sobre situações permeadas pelo sofrimento.
E se a realidade vivida é difícil de suportar, maior a necessidade de substituí-la por outra mais lúdica e poética, o que as crianças fazem melhor do que ninguém.
“O privilégio da infância é podermos transitar livremente entre a magia da vida e os mingaus de aveia, entre um medo desmesurado e uma alegria sem limites (…) Eu sentia dificuldade para distinguir entre o que era imaginado e o que era real”, escreveu o cineasta sueco Ingmar Bergman.
O Centro de Referências em Educação Integral preparou uma seleção de produções, de diversos países, que registram histórias nas quais diversos acontecimentos – da separação dos pais a eventos históricos trágicos, passando por situações de vulnerabilidade social e o luto – são protagonizadas por crianças. Confira!
1. A culpa é do Fidel (Julie Gravas, França, 2007)
Classificação indicativa: livre
Anna, 9 anos, leva uma vida tranquila e de “princesa” ao lado dos pais e do irmãozinho, em Paris, na década de 1970. A vida da família é alterada pela chegada de uma tia de Anna, acompanhada de sua filha, exiladas da Espanha pela ditadura franquista após o desaparecimento de seu companheiro. Os pais de Anna decidem dedicar-se mais ativamente à militância e mudam-se para um pequeno apartamento. A mãe passa a escrever um livro sobre o direito ao aborto, enquanto o pai busca apoio ao governo chileno de Salvador Allende, no Chile. Obrigada a deixar a casa e a rotina da qual tanto gostava, Anna se vê cercada de militantes, os “barbudos”, e busca entender e se a adaptar – a contragosto – à nova realidade.
2. Pelos olhos de Maisie (Scott McGehee e David Siegel, EUA, 2012).
Classificação indicativa: 12 anos
Como uma criança de 7 anos vive a separação dos pais? Como entende a nova dinâmica familiar e as disputas entre os progenitores? Esse é o pano de fundo de Pelos olhos de Maisie, que conta a história sob o ponto de vista da menina disputada por uma mãe cantora de rock e um pai absorvido pelo trabalho. Apesar de contar com todos recursos financeiros e educacionais, Maisie se sente só e busca construir laços afetivos com outros adultos presentes em sua vida.
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3. Minha vida de cachorro (Lasse Hallström, Suécia, 1985)
Classificação indicativa: livre
Ingemar é um menino inquieto de 12 anos que mora com o irmão mais velho, a mãe, e sua cachorrinha Sickan, sua grande companheira. Sozinha, cansada e doente, a mãe envia os filhos para um temporada com os tios, para que ela possa tentar se recuperar. Ingemar é mandado ao interior da Suécia, onde é bem recebido pelo tio Gunnar. Ali, conhece novos amigos e se insere aos poucos na pequena comunidade, ao passo que precisa lidar com a morte iminente da mãe, com a ausência da cachorrinha e ainda entender o complexo mundo dos adultos. O filme ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e foi indicado aos Oscar de Direção e Roteiro.
4. Machuca (Andrés Wood, Chile, 2004)
Classificação indicativa: 12 anos
A passagem da infância para a adolescência também se faz presente em Machuca, sobrenome de um dos dois personagens que protagonizam o filme chileno. Gonzalo, loiro, branco e de uma família abastada, torna-se amigo de Pedro, garoto pobre, de origem indígena e morador da periferia de Santiago. Os dois garotos se conhecem na escola, dirigida por um padre progressista que, no Chile do início da década de 1970, decide colocar estudantes de baixa renda dentro da instituição. Conforme a situação política do país se complexifica e a luta de classes se acirra, os diferentes universos de Gonzalo e Pedro começam a perder as pontes possíveis, em meio a transição violenta do governo de Salvador Allende para a ditadura de Augusto Pinochet.
5. Infância clandestina (Benjamín Ávila, Argentina, 2012)
Classificação indicativa: 14 anos
A temática da ditadura militar e de pais militantes aparece novamente na produção argentina, baseada na vida e na experiência do próprio diretor. Juan, um menino com cerca de 12 anos, vive na clandestinidade junto com os pais e o tio, militantes montoneros. Para fora de casa, Juan tem outra identidade, Ernesto, e precisa esconder quem realmente é – assim como ocultar as atividades políticas de seus familiares – de seus novos colegas da escola, incluindo a menina por quem se apaixona. Outra produção argentina que também aborda o olhar infantil sobre a ditadura é Kamchatka, de 2002. No Brasil, O ano em que meus pais saíram de férias tem um enredo semelhante.
6. Filhos do Paraíso (Majid Majidi, Irã, 1998)
Classificação indicativa: livre
Ali, um garoto de 9 anos de uma família pobre leva os sapatos de sua irmã para consertar, mas acaba por perdê-los no caminho de casa. Sabendo que os pais não têm dinheiro para comprar outro, ele e a irmã mais nova passam a compartilhar o tênis do menino, o que fazem escondido e com muitos sacrifícios e artimanhas. Para tentar resolver o problema, o garoto se inscreve em uma corrida infantil, cujo prêmio para o terceiro colocado é um novo par de sapatos. O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
7. O garoto da bicicleta (Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, Bélgica, 2011)
Classificação indicativa: 14 anos
Cyril, um garoto de 11 anos é deixado pelo pai em um orfanato. No início, ele acredita que o pai irá voltar para buscá-lo, mas, depois, decide tomar a iniciativa e procurá-lo. O menino conhece por acaso uma cabeleireira, que compra a sua bicicleta de volta. A pedido do menino, ela permite que ele viva com ela nos finais de semana. Juntos, Samantha e Cyril tentam encontrar o pai, mas ele não quer mais ver o menino e pede que Samantha o adote.
8. O Tambor (Volker Schlöndorff, Alemanha, 1979).
Classificação indicativa: 16 anos.
O filme – baseado na obra do Nobel de Literatura Günter Grass, que ajudou no roteiro – ganhou diversos prêmios, como o Oscar de Filme Estrangeiro e a Palma de Ouro em Cannes, título que dividiu com Apocalipse Now, em 1979. O protagonista ganha um tambor aos 3 anos, idade na qual decide permanecer para sempre, como “um gnomo”, recusando-se a crescer. Anos depois, ainda com alma de menino, Oskar vive a ascensão do nazismo e expressa o mal-estar por meio do rufar do tambor e de seus gritos.
9. A língua das mariposas (José Luis Cuerda, Espanha, 1999)
Classificação indicativa: 16 anos
O filme, baseado em três contos do escritor Manuel Rivas, conta a história de Moncho, um menino de 7 anos que morre de medo de ir à escola por acreditar que ali será duramente reprimido por seus professores. Por sorte, Moncho tem como docente a Don Gregorio, já idoso e próximo a se aposentar, por quem o garoto se encanta, passando a se envolver e a desfrutar da escola. Às vésperas da Guerra Civil Espanhola, o menino também passa a viver a intensidade política do momento, que impacta suas relações pessoais, incluindo sua amizade com Don Gregorio.
10. Indomável Sonhadora (Benh Zeitlin, EUA, 2013)
Classificação indicativa: 10 anos
O filme mostra uma realidade diferente da que estamos acostumados a ver em produções norte-americanas: a vulnerabilidade social presente nos estados do sul do país. Hushpuppy é uma menina que vive com seu pai doente em uma comunidade pobre do estado da Louisiana, em meio a um lugar pantanoso, afetado por enchentes e desastres naturais – em uma alusão aos impactos do Katrina nessa região do país. Quando uma forte tempestade atinge o povoado, a menina recorre à fantasia e busca encontrar a sua mãe desaparecida e curar o pai.
*Escrito originalmente por Dafne Melo. Colaborou Pedro Nogueira, do Portal Aprendiz. Adaptado por Leandro Ziotto, pai do Vinícius e Co-fundador do 4daddy. As classificações indicativas foram verificadas na página do Ministério da Justiça