Saiba tudo que rolou no 6º Seminário da Revista Pais & Filhos
Queremos convidar vocês à olharem alguns pontos que nos fizeram pensar sobre diversos aspectos de como ser pai.
Pra iniciar essa semana comparecemos ao seminário da revista Pais e Filhos: Maternidade Muda Tudo (ainda bem!).
E vale começar dizendo que o seminário teve muito conteúdo bacana e foi uma experiência ampla de aprendizado e transformação.
Mas, antes, precisamos fazer uma crítica construtiva.
Um ponto crítico e uma sugestão
Apesar da revista se chamar Pais e Filhos, a parentalidade ainda aparece totalmente focada na mãe.
Logo na abertura, a editora chefe justificativa o título do seminário dizendo que a mãe é quem realmente sofre as maiores transformações ao ter um filho.
Mas temos que discordar aqui e dizer que esse tipo de ideia reforça um padrão de que a mulher é quem mais sente e sofre as consequências da maternidade.
Essa premissa enraizada na nossa cultura apontam para números assustadores, como o do último Censo escolar de 2011 que apresenta 5,5 milhões de crianças brasileiras que não tem o nome do pai no registro de nascimento.
Se precisamos mudar essa realidade, sugerimos que os meios representativos da sociedade, comecem a incluir a paternidade. Ser pai também muda tudo!
A importância de incluir a paternidade nos títulos
Acreditamos que o título: “Ter filho muda tudo, ainda bem!” seria mais inclusivo e empoderador para as mães.
De que adianta incluir o título maternidade, mas ignorar a presença da paternidade nessa equação?
Felizmente os palestrantes, em sua maioria, souberam incluir a paternidade em suas falas e explicar a importância da tarefa de criar filhos ser algo pra pelo menos dois, se não toda uma aldeia.
Como reforçou em sua fala a psicopedagoga Laura Gutman, que para nós foi o ponto alto do dia.
Então, segue com a gente que vamos falar dos melhores momentos de cada uma das palestras e levantar questões importantes pra quem vai ser pai ou já é:
Marcos Piangers, o papai pop
O dia começou cheio de energia e risadas com o, sempre desenvolto e engraçado, Marcos Piangers.
O que aproxima a fala do Marcos de todos nós é o fato dele sempre apresentar suas falhas e os erros que cometeu com as filhas e com a esposa, ou mesmo na adolescência.
O que nos causa empatia e muitas risadas, algumas de nervoso até.
Apesar de ser pai famoso, o conhecido papai pop, Marcos aparenta ser pai normal, com falhas, angústias e muito aprendizado com a prática.
Se ele gera na platéia uma sensação de que ser pai é uma tarefa difícil e que pede uma desconstrução da forma como os homens foram criados, apenas para serem provedores e pegadores.
Também promove, acima de tudo, os prazeres e mudanças positivas que a paternidade pode gerar se os pais se permitirem.
Laura Gutman, a luta por uma mundo da perspectiva das crianças
A Laura falou pouco e já abriu pra perguntas, o que nos pareceu uma postura bem disponível.
Mas, logo na primeira pergunta, uma mãe apresentou a história de seu filho com uma necessidade especial, foi interrompida de maneira brusca pela Laura.
A mesma, não acredita em necessidades especiais, ou diagnósticos de deficiências que “etiquetam as crianças”.
Para Laura, cada criança tem sua forma de aprendizado e cada pai e mãe é que terão que adequar sua linguagem e expectativas às necessidades daquela criança.
E ela também critica fortemente as escolas que estão longe de representar os desejos e necessidades de aprendizado das crianças.
Acabam sendo apenas uma terceirização de expectativas dos pais e do universo adulto e totalmente não adequadas para uma criança entender o mundo.
Nós ficamos com a lição para a vida de que temos que ouvir nossas crianças internas e agir de forma mais madura com nossos filhos.
Além de precisarmos acolher suas necessidades e facilitar seu aprendizado no mundo por meio de suas próprias experiências e necessidades.
Por que continuar a esperar que os filhos se expressem ou sigam as regras que nós definimos, quando elas não tem sentido ou não ajudam à entenderem as questões pelas quais estão passando?
Para ser pai, criar um mundo a partir do ponto de vista da necessidade das crianças é o único caminho possível para se reconstruir um mundo mais justo e igualitário, defende a psicopedagoga.
Para isso, segundo a proposta de trabalho da Laura, precisamos nos aprofundar em nossas próprias biografias e acolher nossas crianças interiores.
Para só então podermos ser pai e mãe e criar e compreender as crianças que estamos facilitando o desenvolvimento.
Luiz Hanns, as multi missões das mulheres e a repressão emocional dos homens
O psicólogo de casais aponta, com exemplos cotidianos, os funcionamentos diferentes que ocorrem na cabeça de mulheres e homens em situações comuns.
E é difícil não se reconhecer como a mulher que está com multi missões para cumprir enquanto passeia pelo shopping com o marido e os filhos rumo a festa da cunhada:
“o presente da cunhada, o horário, a pressão social familiar, a necessidade de atender os desejos dos filhos e do marido, a relação do casal e mais umas 70 missões”
Ou mesmo pra um homem se identificar como aquele que passa pela mesma situação e consegue focar sua atenção apenas em uma das questões. Deixando de lado as preocupações da companheira.
O psicólogo levantou muitas pesquisas para atribuir que 50% dessa configuração de papeis se dá devido a anatomia cerebral diferente entre homens e mulheres.
Mas, acreditamos também que muitas pesquisas apontam para o fato da construção cerebral ser algo extremamente plástico e mutável e influenciado principalmente pelo meio social.
De qualquer forma, a promoção de um diálogo de acolhimento, fora dos momentos de raiva e emoção.
E a necessidade de homens considerarem a importância da abertura emocional na relação, com certeza ajudarão muitos casais que estão com a vida sexual obsoleta ou os interesses voltados apenas para trabalho e filhos.
Ana Fontes e o empreendedorismo como forma de libertar as mulheres
A história da empreendedora Ana Fontes é inspiradora!
Uma mulher nordestina que veio para São Paulo com os pais e quebrou paradigmas de desigualdade sociais e de gênero ao virar diretora de multinacional na área automotiva.
Após adotar a segunda filha e sofrer uma rejeição da empresa, após o retorno da licença maternidade, Ana começou a empreender.
E logo entendeu a importância da independência financeira para libertar as mulheres de situações de risco e desigualdade, ou violência doméstica.
Então criou a rede mulher empreendedora, idealizada há 8 anos que iniciou sua atividade como um blog para auxiliar mulheres empreendedoras.
E em 2017 se transformou em um negócio social para trabalhar com empreendedorismo para mulheres em situação de vulnerabilidade.
Sua palestra é uma inspiração emocionante da importância de darmos voz aos nossos sonhos e desejos de trabalho, mesmo para quem quer ser pai e quer pensar em uma alternativa para estar mais presente na vida dos filhos.
Ela nos mostra que trabalho vai muito além de um mercado formal e ainda muito desigual quando se trata de equidade de direitos entre homens e mulheres.
Vera Iaconelli, a parentalidade e os desafios da falta de garantias
A psicanalista apresenta, de forma muito ética, as questões que mudam ao ser pai ou mãe e a importância de entendermos que não há qualquer garantia quando se trata da criação de filhos.
E ainda aponta que nada do que se faz ou deixa de fazer garante algo na vida dessa criança.
Portanto a necessidade de trabalharmos o controle e desenvolvermos uma escuta e acolhimento, mas sabendo que não há fórmulas que garantam o sucesso.
Além disso, ela coloca o quanto é essencial para mães e pais que o filho seja apenas mais uma, entre tantas questões e não a vida toda de alguém.
Porque, como a Vera mesmo brinca:
“ninguém merece ser criado por pais que destinam toda expectativa de realização em cima da criação dos filhos”
E ela finaliza reforçando que há vida para além dos filhos e isso promoverá uma melhor criação para as crianças e uma vida mais abrangente e interessante para os pais.
Mesa redonda, as transformações emocionantes de ser pai e mãe
A mesa composta por: Cris Guerra, Beto Bigatti, Lua Fonseca, Rafaela Donini e Roberta Bento e mediada por Mônica Figueiredo, deixou boa parte dos participantes do seminário emocionados.
Roberta Bento
Contou sua luta enfrentando uma deficiência neurológica de nascença e como ela conseguiu superar as expectativas dos médicos.
E, além de virar uma importante autoridade na área de educação, criar uma filha que atualmente é sua sócia no trabalho com a educação.
Ambas, mãe e filha são grandes parceiras aqui do 4 Daddy.
Veja essa entrevista que elas cederam para nosso portal falando sobre concentração e preguiça nos estudos:
Beto Bigatti
O Pai Mala do instagram e grande amigo na missão de difundir a paternidade como catalizador de transformações sociais, emocionou também, ao contar sobre suas inseguranças ao se tornar pai.
Beto não tem um braço e sempre sofreu com a desigualdade.
Contou sobre o aprendizado que os filhos trouxeram, em sua luta de aceitação a si mesmo.
Nós também acreditamos que os filhos tem muito a nos ensinar, Beto!
Lua Fonseca
Falou de sua história com a criação de 5 filhos, apresentando uma nova forma de pensar a parentalidade.
Que seria aprendendo com as necessidades de cada filho em sua forma de ser e a fase da vida pela qual está passando.
Ela também contou do papel como educadora parental, ensinando os pais a exercerem o diálogo com as crianças de forma horizontal.
Cris Guerra
Contou de sua maternidade solo, após o falecimento do marido antes do nascimento do filho.
E da importância de dividir os momentos de tristeza e fragilidade com o filho e poder continuar a vida, namorando, trabalhando, saindo com as amigas, para proporcionar ao filho uma mãe feliz.
Rafaela Donini
Formada em ciência da computação, foi mãe depois dos 30 e está grávida da segunda criança.
Comenta da realidade de uma mãe com alto cargo em uma empresa e que se dedica como mãe e empresária sem perder a qualidade em nenhuma das duas áreas.
A mesa redonda fechou com chave de ouro o evento, fazendo a plateia se sentir acolhida com as diversas maneiras de exercer uma maternidade e paternidade emocionalmente saudáveis, presentes e atentas.
O que vamos levar na nossa bagagem de pais e mães
Foi um dia de emoções e aprendizados!
É uma fonte de inspiração participar de eventos que se propõe a questionar os modelos que seguimos, as vezes de maneira inconsciente, de como ser mãe e pai nesse mundo recheado de expectativas e comparações.
Como disse a Vera Iaconelli esses aprendizados não vão garantir nada, mas podem auxiliar muita gente nesse processo desafiador de se tornar responsável por uma ou mais crianças.
E fechamos nosso dia com a missão pessoal de ouvir nossas crianças internas e as que estamos criando, aprendendo a dialogar mais de perto, sem tantas expectativas e críticas sobre nós mesmos e nossos filhos e filhas.
Se queremos um mundo mais justo para todos, está na hora de começar a praticar a justiça em nossas relações mais íntimas, até com nós mesmos, nossas parceiras e nossos filhos.
*Autora: Luisa Toledo, psicanalista e produtora de conteúdo e eventos do 4daddy.
Anônimo
5