BIRRA, o terror dos pais
A Birra é uma das queixas mais frequentes de pais e educadores de bebês é a de que, a partir dos dezoito meses de vida, quando contrariados, os bebês choram, sapateiam, gritam, jogam-se no chão e, às vezes, tentam agredir quem está por perto.
Durante alguns minutos ficam inconsoláveis, não aceitam explicações e parecem vivenciar uma catástrofe. Tais acessos de raiva, manifestados corporalmente diante de qualquer frustração de seu desejo, constituem o que comumente se chama de birra.
A birra faz parte do processo de desenvolvimento de todo ser humano. Ela surge quando o bebê e a criança pequena encontram obstáculos que os impedem de realizar seus desejos.
“A birra é uma expressão da frustração e do desagrado da criança ao se dar conta de que nem tudo lhe é permitido.”
Em torno dos dezoito meses, o bebê está em plena expansão de sua independência, costuma querer fazer tudo que acredita ser possível, sem muita noção de limites e perigos. Nem todos os seus desejos são possíveis, e as frustrações são inevitáveis, além de necessárias ao desenvolvimento saudável da criança.
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A birra não é pessoal
Querer e não poder gera no bebê uma tensão, geralmente manifestada através da birra.
É bom ressaltar que a birra não significa um conflito entre o bebê e a pessoa que o frustrou, mas uma manifestação de desagrado pelo impasse entre o querer e o não poder. A expressão deste desagrado se dirige geralmente a quem dá o limite.
De qualquer forma, os pais e educadores muitas vezes ficam confusos, e até perplexos, diante da intensidade das crises da birra, oscilando entre diferentes sentimentos: sentir raiva, bater ou, então, não suportando a choradeira, fazer o que a criança deseja.
É uma situação que costuma tirar os adultos do sério, e a criança percebe que estes “acessos” provocam reações intensas nos adultos, sejam elas de enfrentamento ou submissão. O bebê e a criança pequena têm o direito de expressar sua frustração por não conseguir o que deseja. É importante que os pais, os educadores reconheçam o desejo da criança, o que não implica atendê-lo em tudo.
Como os pais e educadores podem lidar com a birra:
- evitar situações que possam desencadear a crise de birra;
- mudar a criança de ambiente;
- apresentar algo que atraia sua atenção desperte seu interesse;
- esperar passar;
- quando possível, ignorar: não há show sem platéia.
Autoridade e autoritarismo
Impor limites, é dizer sim e não na hora certa. Colocar de forma clara limites não significa gritar ou falar rudemente. Ser firme, explicar os motivos e agir com coerência não é ser autoritário. Autoritário é quem não explica o motivo do não. Outra forma desta atitude autoritária pouco saudável é ser afetivo apenas quando a criança se comporta bem.
“Se você fizer isto, não gosto mais de você.” Apelar para os sentimentos gera conflitos e pode ser usado pela criança quando ela quer agredir o adulto.
Disciplina quer dizer ensinar e não punir
Em casos em que o castigo faz parte do processo, ele deve seguir-se imediatamente à birra ou outro comportamento e respeitar os sentimentos da criança. Depois é necessário que os pais e educadores conversem com a criança castigada; dizer que gostam da criança, mas não podem permitir que reaja daquela forma.
Conversar com a criança depois da birra, costuma ajudá-la a perceber que existe um motivo pelo qual as coisas não são possíveis e que estes motivos têm que ser respeitados. Combinar com ela o que pode ou não pode fazer e manter uma postura coerente em relação ao “não” ajuda na colocação de limites nesta fase de crescimento. Daí a necessidade de pensar bem antes de fazer uma proibição.
Respeitar os combinados não é simples; os pais e educadores terão que voltar a conversar várias vezes; trabalhar regras é um longo exercício. É importante que os pais e educadores dêem espaço para a criança poder se desculpar pelo que fez. Compreender que a bronca não deve assustar a criança mais ainda, mas servir de referência para que a criança possa aprender a reconhecer o que está fazendo e parar.
Assim a criança aprenderá a viver a frustração e a superá-la. A criança que reconhece e pode agir sobre seus próprios limites já é uma criança segura. É com o tempo que aprenderá a ter a autodisciplina.
*Autora: Silvia Gomara Daffre, psicóloga, formada pela PUCSP em 1974; atua em consultório, atendendo crianças, adolescentes e adultos. Trabalha com assessoria e consultoria para a Primeira Infância (0 a 6 anos).silvia@silviamaterne.com.br / Tel.(11) 55752359
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