Rotina intensa pode causar Síndrome do Pensamento Acelerado nas crianças
Nossas crianças estão parecendo pequenos executivos: agenda lotada, exigência de alto rendimento e pouco tempo para se divertir. A rotina das crianças — que volta com tudo após o recesso escolar — está cada vez mais atribulada. Isto tem provocado nos pequenos a Síndrome do Pensamento Acelerado, uma soma de sintomas, como alteração de humor e falha de memória, que pode ser encontrada em transtornos de ansiedade, explica Thyago Azevedo, coordenador técnico da Psiquiatria do hospital Prontobaby:
— Através do pensamento, a criança vai adiante nos seus planejamentos, na sua rotina. Ela avança tanto na linha do tempo e arquiteta um planejamento rígido, que, quando volta à realidade, fica frustrado em excesso.
Para a psicopedagoga Luciana Brites, a rotina acelerada muito tem a ver com as novas demandas sociais. Cada vez mais cedo, as crianças precisam se preparar para entrar na faculdade e se tornar profissionais capacitados dentro do mercado de um trabalho cada vez mais competitivo.
— A responsabilidade que os pais têm é de parar e perceber quais atividades são realmente importantes para o futuro de seu filho, pensando também na qualidade de vida da criança — afirma Luciana Brites, fundadora do Instituto NeuroSaber.
Os pais devem ficar atentos a sinais como mudança repentina de humor, irritabilidade, falta de memória e dificuldade em manter a atenção e a concentração. Além de repensar a rotina da criança, é preciso diminuir o uso de eletrônicos, que deixam a atividade cerebral dos pequenos mais agitada.
— Aconselho os pais a promoverem a socialização de seus filhos com outras crianças, sem o computador e a TV como centro, mas que a companhia e o afeto sejam o motivo maior. Cada criança tem sua demanda, seu ritmo. É importante perceber e estimular que ela também aprenda que as pausas são importantes — finaliza Adriana Marques, professora de Psicologia do Centro Universitário Celso Lisboa.
‘O filho não deve ser visto como investimento’
Francisco Assumpção, coordenador do Departamento de Infância e Adolescência da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que não reconhece a Síndrome do Pensamento Acelerado.
Que conselho o senhor deixaria para os pais?
Gostaria que as pessoas pensassem no porquê de terem um filho. Ser pai ou mãe não é cumprir uma obrigação social. Ter um filho é uma opção de vida. E essa opção de vida tem ficado perdida. Os pais devem se perguntar: “O que queremos desta criança?” e “por que estamos pedindo isso (rotina muito atarefada) para ela?”
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Os pais querem que seus filhos se tornem os profissionais supercapacitados que não conseguiram ser?
Pode até ser, mas essas atitudes dos pais não garantem nada, porque o filho é um ser em aberto. É alguém que vai ser aquilo que quiser e puder, e não o que os pais querem. Um filho não pode ser visto como um investimento financeiro, pois ele pode não trazer o resultado esperado. E esse “resultado negativo” pode causar muita frustração nos pais e na criança, que recebeu investimento e não correspondeu como o esperado.
*Autora: Evelin Azevedo, jornalista do EXTRA. Link original: https://glo.bo/2BhuXvk