Sucos e frutas: como introduzir na alimentação do meu filho e/ou filha
Uma das dúvidas atuais que causa grandes debates, apesar de parecer sem muita importância, é o momento de introdução de sucos na dieta de nossas crianças. Devemos iniciar a alimentação complementar com sucos, logo aos 6 meses? Só depois de um ano? Qual a quantidade de suco que podemos oferecer? Vamos partir de alguns pontos que eu acredito não serem motivos de dúvidas.
– Deve-se manter o aleitamento materno desde a primeira hora de vida, exclusivo até o 6º mês, em livre demanda, estendido até 2 anos ou mais (recomendação da OMS, da SBP, do Ministério da Saúde, da UNICEF).
– Quando falamos de sucos, estamos falando de sucos naturais, feitos da própria fruta e consumidos na hora. Devemos preferir o suco natural a qualquer outra apresentação de sucos do mercado (concentrado, caixinha, polpa, refrescos), em qualquer idade.
– Quando falamos em sucos, estamos pensando em oferecê-los não coados e em copos. Assim não se deve usar mamadeira para oferecer sucos em qualquer idade.
– Quando falamos em hidratação das crianças até o 6º mês, ela deve ser provida pelo leite materno. Quando falamos sobre hidratação de crianças acima de 6 meses, estamos nos referindo ao hábito de tomar água que deve ser estimulado desde então para que possa ser mantido até a idade adulta. A água deve ser usada na hidratação muito mais do que sucos que contém carboidratos
- Dicas de psicóloga de como falar com as crianças sobre sexo e relacionamento
- Para que servem as lembranças da infância
- Homens no papel de cuidadores
Posso esclarecer?
Duas das principais justificativas, senão as maiores, para que se sugira oferecer apenas frutas e não sucos em crianças até um ano de idade, além do aleitamento materno exclusivo até 6 meses, são o índice glicêmico (IG) e a carga glicêmica (CG).
Quando ingerimos qualquer alimento, há uma elevação do nível de nosso açúcar no sangue (glicose – glicemia). Esse aumento pode acontecer de forma rápida ou de forma lenta, em picos maiores ou menores e essa ação pode durar por mais ou menos tempo.
O IG e a CG são os padrões de medida, de forma científica, dessas características alimentares. O ideal, o desejado, o saudável é ingerir alimentos de médio para baixo IG e CG.
Tudo o que aumenta a nossa taxa de glicose no sangue rapidamente, a altos níveis e tem uma digestão rápida, tem um IG alto e isso pode provocar uma liberação maior da insulina que, por sua vez, é um dos fatores que podem favorecer o diabetes tipo 2.
O ideal é ingerirmos alimentos de baixo IG, ou seja, que elevem a glicemia (dosagem de açúcar no sangue) menos do que a glicose, sejam decompostos mais lentamente, liberando a glicose aos poucos na corrente sanguínea e por um tempo mais prolongado.
Já a carga glicêmica (CG) dá o resultado do efeito que a dieta tem na glicemia como um todo porque avalia a porção de carboidrato disponível dos alimentos e o IG (através de uma fórmula: CG = porção do carboidrato disponível x IG/100).
Assim, os sucos têm maior IG e maior CG do que as frutas in natura, em pedaços. Seu uso constante e precoce aumenta o risco de induzir maior resistência periférica à insulina que é a base do quadro de diabetes tipo 2, cada vez mais comum nas crianças, sendo esse um dos fatores que contribuem de forma significativa para o aumento dos níveis de sobrepeso e obesidade infantis observados nas últimas décadas.
Vejam o cálculo na tabela abaixo.
Suco de laranja | Laranja (fruta) | Suco de maçã | Maçã (fruta) | |
IG |
52 |
42 |
40 |
38 |
CG |
12 |
5 |
11 |
6 |
As frutas apresentam fibras, tanto na sua forma em pedaços quanto na forma de suco. Quanto menores as fibras, quanto mais moídas ou trituradas, mais rapidamente elas são absorvidas e mais rapidamente aumentam a glicemia. Quanto mais íntegra a fibra, mais ela dificulta a digestão agindo até como uma barreira física, diminuindo o IG.
Só isso? Não. Ainda temos as fibras.
Assim, se esprememos (laranja) ou usamos uma centrífuga (maçã) para bebermos uma fruta ou fazemos uma vitamina (no liquidificador), quebramos essas fibras, facilitando sua digestão, aumentando o IG.
Além disso:
– Espremer a laranja não utiliza todas as fibras presentes na fruta;
– Centrifugar uma maçã para obter seu suco, mesmo com casca, quebra as fibras em pedaços muito pequenos e também coa de forma muito eficaz, retendo mais as fibras;
– Usar o liquidificador ou a centrífuga para fazer vitaminas ou purês de frutas, também quebra as fibras.
A Academia Americana de Pediatria, em matéria atualizada em 28 de maio de 2013 no site HealthyChildren.org, faz algumas “recomendações responsáveis” para a incorporação do suco na dieta das crianças, entre as quais quero ressaltar:
– Que seja suco de fruta natural, sem nenhuma adição de açúcar ou adoçante;
– Evitar a oferta até pelo menos um ano de idade e evitar o uso de mamadeiras;
– Considerar diluir em água;
– Encorajar a criança a comer frutas frescas, inteiras, sempre que possível;
– Sempre que possível, servir suco que contenha a polpa para aumentar a quantidade de fibras;
– Certificar-se que a introdução do suco não interfira no interesse da criança no leite e na água;
– Ficar atento a possíveis sinais de excesso de ingestão de sucos como diarreia infantil bem como problemas de deterioração de dentes, que são comuns não só em bebês, mas principalmente entre os 2 e 3 anos de idade, quando ocorre um maior consumo.
Em outra matéria do mesmo site, (30/07/2012 atualizada em 11/05/2013), há uma orientação a respeito da quantidade de suco a ser oferecida:
– 1 a 6 anos – limite de 120 a 180 ml ao dia. Em crianças acima de 6 meses o suco não oferece nenhum benefício nutricional maior do que as frutas inteiras que, além disso, são fontes de fibras e outros nutrientes. Não permitir que as crianças carreguem copos ou caixinhas contendo sucos, durante o dia.
– 7 a 8 anos – limite de 240 a 360 ml ao dia.
Ainda valeria a pena acrescentar mais três sugestões:
– Oferecer frutas para crianças entre 3 a 4 vezes ao dia (lanche da manhã, após o almoço, lanche da tarde e após o jantar). Quando oferecida após uma refeição com potencial alto IG, a fruta, através da mistura dos alimentos da refeição, pela presença de fibras, diminui esse IG.
– Não oferecer frutas cozidas. O cozimento oxida a vitamina C, que é uma das principais razões para se oferecer as frutas, além de abrandar as fibras presentes no alimento.
– Em caso de aleitamento materno, nas duas grandes refeições (almoço e jantar), oferecer: almoço/jantar, depois a fruta e depois o leite materno. Qualquer modificação nessa ordem pode interferir na aceitação do “pacote”.
*Autor: Doutor Moises Chenconski, formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira (AMB). Formado pelo CEPAH – Centro de Pesquisa e Aperfeiçoamento em Homeopatia com título de especialista em homeopatiapela Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB). Presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (2016 / 2019). Membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Autor dos livros HOMEOPATIA mais simples que parece e GERAR E NASCER um canto de amor e aconchego. Editor responsável pela revista Doses Mínimas, sobre homeopatia. Editor do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Fontes do texto do Dr. Moises Chenconski:
– Site NUTRITOTAL.
– Site da Sociedade Brasileira de Diabetes.
– Site HealthyChildren.org da Academia Americana de Pediatria.