Proteção e Autonomia: ingredientes para o desenvolvimento pessoal das crianças
É importante para os pais lembrar que todas as áreas da aprendizagem e do desenvolvimento de um bebê, de uma criança pequena são igualmente importantes e inter-relacionadas, englobando o desenvolvimento motor, intelectual, atitudes e vocalização.
O desenvolvimento não é um processo linear, mas ocorre por saltos e por degraus, cujo ritmo varia conforme os indivíduos.
Desenvolvimento motor
O controle dos músculos e da postura é muito importante no desenvolvimento de uma criança. É com as capacidades motoras e o domínio dos movimentos que o bebê vai sentindo dono do próprio corpo. Nos primeiros meses de vida o corpo de bebê é molinho e desarticulado. O desenvolvimento se dá através do exercício espontâneo dos movimentos e do prazer em se movimentar.
Destacamos alguns “saltos” do desenvolvimento motor e suas idades aproximadas, lembrando que cada bebê tem o seu ritmo.
- Três meses: o bebê sustenta a cabeça;
- Cinco meses: começa a sentar-se com apoio e segura um objeto;
- Sete meses: arrasta-se se deslocando do lugar;
- Nove meses: engatinha;
- Doze meses: anda.
Há uma autora, Emy Pickler, que ressalta:
- Toda criança é competente desde seu nascimento e pode ser capaz e confiante dependendo de como é cuidada. Precisamos permitir que o bebê possa tentar, e consequentemente, errar para aprender. Como se alimentar sozinha mesmo fazendo certa sujeira.
- Crianças aprendem a ser fortes e independentes a partir de relacionamentos que envolvem afeto e segurança dos adultos. Reforçar o que ela aprende; elogiá-la. Os adultos devem ter a mesma postura e fala diante de uma situação.
- O ambiente tem um papel importante no suporte e aprendizagem do desenvolvimento infantil e para criança dessa autonomia. Brinquedos, livros são importantes em qualquer fase.
- Crianças desenvolvem e aprendem de diferentes modos e em diferentes estágios. A comparação com outras crianças não traz ganhos.
Proteção e autonomia são condições indispensáveis ao crescimento saudável de bebês, crianças e adolescentes.
Essas construções de autonomia começam na primeira infância
É um desafio para os pais e educadores transitar entre estas duas possibilidades, proteção e autonomia, junto a bebês, crianças e adolescentes. A independência e autonomia são construções que começam cedo; são construções progressivas que se iniciam na primeira infância.
Entendemos que a construção da autonomia começa com a possibilidade de um bebê poder ser ele mesmo, ser respeitado em seus hábitos, preferências e estilo de relacionamento, que tem a ver com sua história de vida. Para conquistar a autonomia, que é a capacidade de governar a própria vida, é preciso passar, necessariamente, pela heteronomia, ou seja, ser governado por outro.
A luta dos primeiros passos por independência não é fácil para a criança.
Ela aprendeu a dizer “sim” ou “ não”, mas não aprendeu um terreno intermediário. Pode dizer “eu quero” sem poder fazer a ação totalmente sozinha.
Observamos esta luta nas situações da alimentação, banho e colocar roupas. Ela está aprendendo sobre si mesma. A criança pequena não consegue controlar muitas de suas ações, já que seu mundo interno ainda está muito associado aos sentimentos que vivencia.
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Dependência criança-adulto
Escutamos dos pais e educadores uma angústia que diz respeito ao grau de dependência que se cria nas relações entre criança-adulto.
Winnicott faz três recomendações valiosas para esta situação :
A primeira é que o que uma criança precisa encontrar para um desenvolvimento saudável, é da ordem de uma suficiência, não de uma perfeição que exclua falhas, desencontros ou reveses. Cuidado a menos, falha a proteção; cuidado a mais, impede a autonomia.
A segunda recomendação é que, tão importante quanto a presença e a qualidade dos cuidados maternos para os bebês, é a conquista da possibilidade do bebê estar só na presença da mãe, ou de quem esteja na função materna.
As primeiras experiências de existir como alguém separado do adulto ocorre na presença da mãe ou do adulto, embora este adulto esteja lá apenas para permitir que o bebê possa dela se esquecer de e se ocupar de suas explorações num clima de segurança e tranquilidade.
Estar só, explorar o ambiente, descobrir e aperfeiçoar suas capacidades motoras, o domínio de seu corpo, suas capacidades lúdicas, enfim, experimentar a possibilidade de existir como alguém separado do outro, mas sob o olhar e atenção do adulto que cuida.
A terceira recomendação de Winnicott diz respeito às condições de sobrevivência do adulto diante de comportamentos agressivos, desafiadores e por vezes destrutivos das crianças e adolescentes dirigidos aos adultos dos quais depende.
Sobreviver significa não desanimar, não desistir da tarefa, não se vitimizar, não se tornar sentimental. Manter o lugar de quem cuida, orientado pelas necessidades daqueles de quem se cuida e não pelas próprias necessidades.
O papel dos pais, diante dos desafios junto a seus filhos não é fácil. Mas quando olhamos para as conquistas, vemos que vale a pena todo este investimento.
*Autora: Silvia Gomara Daffre, psicóloga, formada pela PUCSP em 1974; atua em consultório, atendendo crianças, adolescentes e adultos. Trabalha com assessoria e consultoria para a Primeira Infância (0 a 6 anos).silvia@silviamaterne.com.br / Tel.(11) 55752359 / www.silviamaterne.com.br .