Novos caminhos para a desconstrução dos papéis sociais dos homens (Uma Visão Feminina)
É importante pensarmos outros caminhos, menos polarizados para a criação de novos homens. O feminismo foi e ainda é importante catalisador da transformação dos papéis femininos na sociedade, mas para que mais mulheres possam ser validadas e para que as funções sociais da feminilidade e masculinidade ocupem novos lugares será necessário abrir mão do papel de herói, ou de ídolo que muitos homens ainda buscam atingir, para virem a se tornar homens possíveis, humanos, com falhas, incompletos e frágeis.
Cabe a pais e mães entender que seus filhos não precisam de um modelo de herói, e sim modelos de humanidade, para que possam crescer acolhendo suas faltas e lidando melhor com frustrações e não passem a vida toda tentando ocupar um lugar heroico de conquistas e realizações. Às crianças cabe a compreensão de que não precisam ser ninguém, além delas mesmas, e nisso já estão contidas tantas variáveis subjetivas, porque nós somos uma mistura dos desejos que achamos que são nossos, mas que foi a forma como percebemos os desejos dos outros além de nossos próprios impulsos.
Ninguém precisa ser herói o tempo todo
Quem precisa ser herói o tempo todo, em algum momento, pra se libertar, vai acabar procurando um escape na imagem de anti-herói, como se só fosse possível se libertar do fardo desse papel perfeito, quando fizer algo de errado, de não aceitável socialmente. Quantos homens querem assumir a posição de melhores parceiros e pais do mundo à luz do sol e na sua sombra escondem desejos e fantasias perversas? Aqui a internet entra como um mundo de possibilidade da realização dessas fantasias.
Alguns fardos foram destinados aos papéis sociais de ser homem e mulher, a mulher por mais que tenha se descontruído em conquistas e lutas sociais anda cabe o papel de delicada, sensível, que sabe se cuidar e cuidar dos outros acima de si mesma e anula seus desejos para realizar os desejos dos filhos e dos companheiros. E os homens aqueles que devem ser sempre fortes, que impõe respeito, provedores, mas que escondidos são perdoados por traírem, mentirem e usarem artifícios aceitos socialmente para viver impunimente o seu desejo infantil (desejo de totalidade e de reconhecimento do próprio ego o tempo todo).
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Humanizem os sentimentos dos seus filhos e filhas
Esses enquadramentos em pleno 2018 não são apenas obsoletos, mas não cumprem mais qualquer função que não seja a de criar neuroses e frustrações e gerar relacionamentos fadados ao fracasso. Enquanto continuarmos a naturalizar o desejo masculino como algo incontrolável e, portanto, perdoável e a sexualidade feminina como algo a ser escondido e escandalizado, continuaremos criando casamentos fracassados. Lembrando que fracassar nesse caso não é só se separar, mas escolher permanecer juntos sem respeito e nem desejo já não deveria ser considerado um casamento de sucesso.
E aos homens e mulheres que criam outros futuros homens deixo um apelo: não cobrem realizações heroicas e impossíveis, nem desumanize os sentimentos de seus filhos, ao mesmo tempo não passem a mão na cabeça de todas as escolhas e vontades deles. Parece que já há uma luta pela criação de mulheres mais independentes, corajosas e criadoras, mas ainda seguimos criando homens sem contato com suas próprias emoções e ao mesmo tempo cobrados de suas conquistas profissionais, mas não de seu desenvolvimento emocional e afetivo.
*Autora: Luísa Toledo, psicanalista lacaniana em busca um mundo mais ético e justo a partir da transformação individual para a construção de um novo coletivo. Sócia-fundadora do Psicanalisar-se.