23 de março de 2019 4daddy

Games violentos podem ser associados a comportamento agressivo?

 

Games violentos podem ser associados a comportamento agressivo?

O tiroteio que ocorreu em Suzano, na Grande São Paulo, envolvendo crianças e adolescentes na quarta-feira dia 13 de março trouxe à tona mais uma vez uma discussão antiga: videogames violentos podem ser associados a comportamento agressivo?

A literatura científica atual diz que não. Uma pesquisa da Associação Americana de Psicologia afirma que videogames, incluindo jogos violentos, podem melhorar o aprendizado de crianças e até promover benefícios sociais. Outro estudo, da Universidade de Oxford, atestou não ter encontrado relação entre jogos que contêm violência e comportamento agressivo.

Sobre o tema, a revista ÉPOCA consultou Julieta Jerusalinsky, psicanalista, mestre e doutora em psicologia clínica pela PUC-SP e autora do livro Intoxicações eletrônicas: o sujeito na era das relações virtuais(Agalma, 2017).

Para ela, fantasiar permite que crianças produzam respostas psíquicas para o que ainda vão viver:

“COM JOGOS, CRIANÇAS PRODUZEM RESPOSTAS PSÍQUICAS PARA O QUE AINDA VÃO VIVER”, diz especialista Julieta Jerusalinsky.

1 – Alguns jogos de videogame são agressivos demais para crianças?

Julieta – Quanto à agressividade dos jogos virtuais, é preciso compreender que o que se passa em um espaço ficcional tem um marco e, portanto, o que ocorre dentro dele não deve ter consequências na realidade. Do mesmo modo que, quando uma criança está brincando de faz de conta, encenando uma luta entre Peter Pan e Capitão Gancho, por exemplo, é preciso que ninguém saia machucado de verdade ou que não se tome o outro como um inimigo de fato, já que se trata de uma encenação.

2 – Qual é o perigo de que a fantasia se confunda com a realidade?

Julieta – Esse é um risco que tem corrido na sociedade da pós-verdade. Se a internet possibilita um acesso à informação sem precedentes, temos testemunhado difamações sem nenhum compromisso com os fatos. Há grupos virtuais que se encerram e, blindados de qualquer encontro com a alteridade, retroalimentam delírios.

Quando uma sociedade perde o compromisso com a responsabilidade pelo coletivo, com a verdade dos fatos e com a alteridade como modo respeitoso de encontro com as diferenças, atos de todo tipo,do suicídio ao assassinato, ficam absolutamente facilitados, empurrando todos a situações-limite.

3 – Devemos privar as crianças de jogos de fantasia?

Julieta – Brincar, ler histórias, jogar, permite para uma criança representar os conflitos da vida, produzir respostas psíquicas diante do que lhe toca viver. Daí que o brincar precisa estar permeado por importantes conflitos éticos, privações e supostas situações-limite diante das quais a criança produz ficcionalmente saídas. Por isso, esterilizar as ficções ou jogos oferecidos às crianças de qualquer conteúdo agressivo pode acabar por empobrecer as possibilidades de uma criança de contar com esses recursos, já que qualquer criança, por mais cuidada que seja, testemunha rivalidades, invejas, maldades e injustiças do mundo.
No entanto, assim como em diferentes momentos da vida a criança recorre a certas histórias ou personagens de que gosta mais para elaborar os conflitos que está vivendo, o tipo de ficção que se oferece a alguém também acaba operando como recurso simbólico, como chave de leitura, por assim dizer, para situar as relações que a rodeiam. Nesse sentido é importante pensar que recursos se oferecem à criança para representar o mundo, que valores e que complexidade fazem parte dessas ficções.

4 – E os jogos virtuais são bons recursos?

Julieta – É preciso considerar que a maioria deles prima por excelentes recursos visuais, em alguns casos até obscenamente realísticos, mas que se apresentam empobrecidos no aspecto simbólico. Ou seja, a coreografia da luta é impressionante, no entanto carece de uma história acerca das causas da luta. Isso pode resultar em um modo de brincar em que a criança reproduz uma cena sem se interrogar das razões implicadas nela. Esse é um modo de brincar muito mais frágil, empobrecido de recursos simbólicos. Algumas vezes as plataformas virtuais fazem pela criança todo o trabalho imaginativo, dando-lhe pronto um cenário, um personagem e uma missão, sem que ela tenha de construí-las ou comunicá-las a qualquer companheiro de jogo. Esse trabalho que lhes é poupado elimina um trabalho que é estruturante da infância: dizer ao outro em palavras o que se imaginou é também o que depois permite escrever um texto ou entender uma ideia.

Por isso, se as telas fazem parte de nossos tempos, é preciso que os adultos também possam fazer objeção a elas construindo e compartilhando com as crianças outros recursos em seu lugar.

 

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