“Quando nos tornamos pais, a situação nos faz ser mais saudáveis!”, frase de um pai numa roda de conversa. “Será?! Qual saúde estamos falando?”, fiz a provocação. Super valorizamos a saúde do corpo/física, e infelizmente negligenciamos a nossa saúde mental e emocional. Que tem impacto direto na nossa relação com nossas(os) filhas(os), inclusive na vida delas(es) na fase adulta.
A saúde mental ainda é um tabu. E por causa de falta de informação, gera muito preconceito sobre o assunto. Na verdade, me permito até a escrever e ousar a afirmar, que na atualidade, devido ao estilo de vida que vivemos, ritmo de vida, pressões sociais, trabalho, conjunturas políticas e desafios pessoais e profssionais, é muito difícil alguém em nosso “mundinho” de 7 bilhões de pessoas, ter uma pessoa, totalmente sã/zen/plena!!!
E exercer a nossa parentalidade (paternidade e maternidade), uma das funções mais importantes da atualidade, já que estamos cuidando das pessoas que irão herdar o nosso planeta, é MUITO desafiadora. E a nossa saúde mental, terá impacto na saúde mental de nossas crianças hoje, e na saúde mental delas na fase adulta.
A verdade é que a relação entre pais e filhos costuma mesmo ser repleta de dificuldades, conflitos e medos; mesmo munidos das melhores intenções, muitos pais e mães “escorregam” nesses papéis. Ainda que seja impossível estabelecer uma cartilha com regras, pois não existe regra, há, sim, algumas práticas que podem ser consideradas positivas. Isso se aplica à saúde mental, por exemplo.
O que é saúde mental?
Um estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com o estresse normal da vida, pode trabalhar de maneira produtiva e é capaz de contribuir com sua comunidade. É assim que a Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde mental.
Inquestionavelmente, é papel dos pais e cuidadores oferecer condições para que os filhos tenham as ferramentas de que precisam para manter suas próprias mentes saudáveis.
Heloísa Capelas
CEO do Centro Hoffman
Quando escrevo aqui uma boa saúde mental, estou me referindo ao aspecto comportamental, ou seja, ao desenvolvimento físico, intelectual e emocional, não ao aspecto patológico (as patologias que levam às doenças mentais precisam ser tratadas por especialistas, evidentemente). Nesse contexto, a boa saúde mental tem ligação direta com o que a criança presencia, aprende e vivencia na infância.
Vale esclarecer que, uma criança capaz de se comunicar, de demonstrar afeto e de aprender novas tarefas num espaço de tempo adequado, por exemplo, dá sinais de que está vivendo de maneira saudável. O contrário nem sempre indica ausência de saúde mental, porque a desobediência, a ‘má educação’ e mesmo a dificuldade de aprendizado podem ser relacionados ao desejo inconsciente da criança de ser vista e, assim, sentir-se amada.
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Impacto na vida de nossas crianças
Segundo um novo estudo norueguês, publicado na Pediatrics , pais que sofrem de stress, ansiedade e outros problemas emocionais podem afetar de forma negativa a saúde mental de seus filhos antes mesmo antes de eles nascerem – ou seja, ao longo da gestação dos bebês. Para os autores dessa pesquisa, explicações plausíveis para essa relação incluem o fator genético e a possibilidade de esses homens influenciarem a saúde mental das mulheres grávidas, prejudicando indiretamente o feto.
Quem fez: Anne Lise Kvalevaag, Paul Ramchandani, Oddbjørn Hove, Jörg Assmus, Malin Eberhard-Gran, e Eva Biringer
Instituição: Hospital Helse Fonna
Dados de amostragem: 31.663 famílias
Resultado: Pais que, na metade da gravidez de seus filhos, apresentam altos níveis de stress e ansiedade, têm uma chance maior de ter filhos com problemas comportamentais e emocionais aos três anos de idade.
Homens podem chorar
“Você precisa ser forte”, “Menino não chora”, “Isso é coisa de menina”. Os estímulos (ou desestímulos) que nós homens recebemos na infância tiveram impacto direto na nossa saúde mental agora na fase adulta. E podemos passar esses mesmo estímulos (ou desestímulos) para nossos filhos , eles compõem os seus primeiros referenciais de mundo. É na fala e no comportamento dos adultos que os pequenos aprendem o que é permitido, bem visto, socialmente aceitável, certo e errado.
Desde a primeira infância, os meninos crescem praticamente sem ver os homens exercendo o papel de cuidador. Via de regra somos cuidados pelas mulheres de nossa família como mãe, tias, primas e irmã mais velha, que depois passam o “bastão” para a esposa.
Assim, não aprendemos a cuidar de nós mesmo, ainda mais, emocionalmente e mentalmente.
Um homem que não sabe cuidar de si, de forma cuidadosa e respeitosa, fisicamente, mentalmente, e emocionalmente. Não saberá cuidar de outra pessoa, e nem do nosso planeta Terra.
Leandro Ziotto, pai afetivo do Vini e fundador da 4daddy
Precisamos falar da saúde mental das mãe também
Mundialmente, cerca de 10% das mulheres grávidas e 13% das mulheres que acabaram de se tornar mães sofrem de algum distúrbio mental, principalmente depressão, relata a OMS. Além disso, 1 em cada 5 mulheres experimentam algum tipo de transtorno perinatal de humor e ansiedade (PMAD), de acordo com o WMMHD.
Sendo assim, a falta de compreensão, apoio e tratamento a essas doenças mentais têm um impacto devastador nas mulheres.
De acordo com a OMS, “após o nascimento, a mãe com depressão sofre muito e pode deixar de comer, tomar banho ou cuidar adequadamente de outras maneiras. Isso pode aumentar os riscos de problemas de saúde.”
Em nossa cultura as mulheres sofrem uma pressão social, psicológico, emocional e até física, maior que a do homem. Isso não desmerece ou anula a pressão que cai sob os homens/pais também. A questão não é disputar quem sofre mais. Mas sim, dizer que exercer a parentalidade, seja pai e mãe, não deveria ser tão dolorido e nocivo para alguém.
Por isso a consciência do homem, parceiro e pai, sob essa pressão que a mãe do seu filho(a) terá, ajuda a ele ser mais próximo e auxilia-la de forma mais afetiva, e também a buscar sua própria ajuda, para o seu auto cuidado paterno masculino.
A saída é o autoconhecimento
Na vida adulta, o autoconhecimento é caminho para não apenas restaurar, mas principalmente estabelecer a saúde mental. A reflexão profunda e honesta sobre a própria trajetória, desde o momento da concepção até os dias de hoje, é um passo essencial para quem deseja se rever e se transformar.
Trata-se de um exercício a ser feito constantemente que nos permite compreender quem somos hoje e como e por que chegamos aqui dessa forma. O perdão – aos nossos pais e aos nossos erros – é a ferramenta que dará condições para que possamos deixar para trás comportamentos negativos e adotar novos comportamentos, mais saudáveis.
Heloísa Capelas, é CEO do Centro Hoffman, expert em Autoconhecimento e Inteligência Comportamental, considerada uma das maiores especialistas no método Hoffman no Brasil. Palestrante, Coach, Master Practitioner em PNL, Consteladora Sistêmica, autora de “O Mapa da Felicidade” e de “Perdão, A Revolução que Falta”, além de coautora de mais sete livros sobre Gestão de Pessoas, Liderança e Coach.
Ela dá uma recomendação incrível sobre como dar as ferramentas necessárias para seu filho e/ou filha: “se você quer que seu filho desenvolva determinada habilidade ou competência, comece por você. Seja o modelo e fuja do faça como eu digo, mas não como eu faço”. E, então, volte os olhos para si.”
– Como é que você lida com a pressão e com as cobranças?
– Como é que você tem buscado a perfeição – e, consequentemente, lidado com a frustração?
– Como tem cuidado do seu corpo, da sua alimentação, da sua própria educação?
– Como lida com o trabalho e com as atividades profissionais?
Todas essas respostas são de extrema importância, afinal, revelam também os aprendizados que seus filhos estão obtendo ao lhe acompanhar pela vida. Afima Heloisa Capelas.
*Autor: Leandro Ziotto, pai afetivo do Vini e fundador da Plataforma 4daddy.